O Inferno e o Pecado

05-12-2015 11:16
Baseado no Sermão de Samuel Bolton (1606-1654) pregado em 25 de Março de 1646
 
"E dará à luz um filho e chamarás o seu nome JESUS; porque ele salvará o seu povo dos seus pecados" Mateus 1:21
 
Não há maior mal do que o pecado. Junte todas as imundícias, veja toda a sujeira, toda a iniquidade da humanidade e em cada uma delas verá o pecado, como uma serpente destilando veneno e mais veneno a cada mordida. O pecado é o bastão na mão do diabo, pelo qual coordena seus esforços. É aquilo que Deus abomina, que causa separação entre os homens e Deus (Isaías 59:2).
 
O pecado foi a causa do homem ser expulso do Paraíso. Pela transgressão Adão conheceu a morte e, depois dele, todos os homens experimentam o mesmo destino. Devido ao pecado a própria natureza foi entregue à deformidade, espinhos e cardos nasceram, pragas surgiram, os animais se enfureceram e o solo deixou de ser tão fértil como era ao princípio. Não só isso, mas uma condenação eterna foi preparada aos anjos e homens que caíram nas suas redes! E é nesse ponto que quero meditar um pouco...
 
Muito temos visto sobre o temor do inferno, pregações enfatizam seus horrores e mostram o destino eterno daqueles que forem destinados a essa prisão, mas, em comparação, pouco tem sido falado sobre o temor do pecado. Meditemos por alguns instantes e pensemos no seguinte: o que é o inferno? E o que é o pecado? O inferno nada mais é do que um lugar de aprisionamento eterno, castigo para os infiéis, mas, no sentido de lugar de punição, o inferno não é tão mal quanto o pecado. Não é o inferno que conduz ao inferno, nem é o inferno que conduz ao pecado, nem é o inferno que Deus abomina (enquanto lugar de punição), mas é o pecado que leva à condenação e é ele que ira a Deus.
 
Temer somente o inferno é o mesmo que alguém ter medo de ir para a prisão, mas não temer o crime que conduz para lá. Falar dos horrores de uma prisão e ter aversão a ela não é o mesmo que ter horror ao crime que ela pune. O cristão não precisa temer o inferno, pois enquanto permanecer crente em Cristo estará longe dele. Contudo deve sim, todos os dias, temer o pecado, que não só conduz à prisão como desagrada a Deus que fez a prisão.
 
Devemos temer o pecado e fugir dele. Por outro lado, devemos odiá-lo e procurar destruí-lo em nós. Coisa estranha, no entanto, é ver quantos pensam que podem ser amigos dele, brincar com ele, acariciá-lo como se fosse seu animal de estimação! Brincar com o pecado é o mesmo que alguém tentar brincar com um leão que não come a vários dias. Acaricià-lo é abraçar o leão faminto pensando que terá um carinho em troca. Assim como a morte está rondando quem age dessa maneira também o inferno aguarda aquele que ama o pecado.
 
Evitar o pecado por medo do inferno é o mesmo que evitar um crime não pela aversão de fazer o mal, mas pelo medo da punição subsequente. Devemos lembrar que o pecado é o sumo mal, corrompeu aos anjos que abandonaram seu primeiro estado, provocou rebelião até no céu, contaminou a criação de Deus e a todo momento é o responsável pela morte de milhões no mundo.
 
Além disso custou um alto preço para ser redimido. Deus precisou dar seu melhor para destruir o pior mal do mundo! O próprio Filho Unigênito de Deus precisou deixar sua Santa Habitação, tomar um corpo mortal, padecer sobre o chicote romano, ser torturado, crucificado e morto para que o inimigo fosse destruído! Uma doença tão terrível, que precisou de um remédio tão amargo como esse, não pode, de forma nenhuma, por nenhum ângulo de visão possível, ser agradável a nós...
 
Aquele que peca pisa o sangue de Cristo! Quem se deleita no pecado está cuspindo no Filho de Deus! Quem conhece a verdade e prefere a mentira torna-se um traidor de Cristo e está preparando para si mesmo uma corda para suicidar-se! Se o pecado não aflige a alma, não pesa na consciência, nem provoca um estado interior de repulsa é sinal que o inferno já não precisa ser temido, pois já está na alma da pessoa.
 
Conhecer o terror que o pecado provoca, quanto ele é mal, como é abominável e como deve ser detestável é o primeiro passo para uma conversão sadia. De nada adianta saber que Jesus morreu na cruz se não souber, igualmente, que você foi culpado pela morte Dele. Foi por seus pecados, por suas faltas, por seus pensamentos lascivos, por sua conduta imprudente, sua bebedeira, suas orgias, suas blasfêmias e reclamações descabidas, sua índole má e corrupção interior que Cristo sofreu tanto naquela cruz. Saber dessa verdade, a princípio, provoca grande tristeza, mas depois, frutos de arrependimento e contrição (2 Coríntios 7:9).
 
O desespero pode saltar sobre a alma que vê essa verdade, seus olhos, antes fechados para seu próprio mal, agora vêem o que, com todo seu coração, gostaria de arrancar e atirar para longe de si, mas não pode... O pecado, tal qual sanguessuga, prende-se à sua presa e suga seu sangue mais e mais... Então a visão do inferno parece tão real que é como se o pecador já estivesse lá, ouvindo os terríveis sons de choro e ranger de dentes...
 
Então vem Cristo e abre seus olhos para enxergar um pouco mais. A escuridão dá lugar à luz do versículo "Ele salvará o seu povo dos seus pecados". O pecador convicto descobre que há uma chance, uma forma de viver! As escamas começam a soltar de seus olhos e sua visão, ainda borrada, cai sobre outra verdade "todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo" Romanos 10:13. Uma ponta de esperança aparece em sua alma e ele diz "Miserável homem que eu sou! Quem me libertará do corpo sujeito a esta morte?" Romanos 7:24, e Deus responde: "Voltem-se para mim e sejam salvos, todos vocês, confins da terra; pois eu sou Deus, e não há nenhum outro." Isaías 45:22.
 
Esse sentimento verdadeiro, desperto pela ciência do que é o pecado, do castigo que lhe cabe, de Cristo que salva e que não há outro além Dele, a aflição desencadeada pela consciência, o desejo de ser livre e a alegria de descobrir que o amor de Jesus fez Dele nossa Salvação e garantia de liberdade é o que mais temos necessidade, o que torna a pessoa realmente submissa a Deus e avessa às corrupções e tentações do diabo e do mundo.
 
Que tenhamos mais disso em nossos púlpitos, em nome de Jesus Cristo! Amém.